Crônicas de uma psicóloga hospitalar

Todos os dias, meu alarme toca as 7 horas para me arrumar para ir ao trabalho. Mas não sei o que está acontecendo, porque agora acordo antes do alarme tocar, pois onde trabalho os alarmes e barulhos de maquinas de batimentos cardíacos me fazem sentir angustia e um medo de perder algum paciente enquanto estou ao seu lado.

Existem muitos casos que acontecem no hospital e hoje vejo que até o mais absurdo, mesmo confuso, faz algum sentido. Não para mim, mas para o paciente que já está sofrendo, e a dor muitas vezes não faz sentido. Logo, mesmo não compreendendo, é necessário ouvir e estar ali.

Vejo que existem muitos profissionais se queixando de situações assim, pois não estudaram para isso, que não sabem acolher, ouvir ou ter paciência mas entendo que quando se tocar em alguém, é necessário cuidado com aquele paciente para que não fique mais machucado do que já está.

Certa vez, fui visitar uma senhora em um leito e ela estava muito braba com a equipe de enfermagem, brigava com eles, falava alto, pedia para que a escutasse, mas a equipe só queriam saber de inserir o acesso com a medicação e ir embora. Nesse dia, quando entrei em seu apartamento, deixei minha prancheta na mesa e fui para perto dela, eu a olhei nos seus olhos e perguntei como estava, ela começou a se encolher e queixou-se de estar com sede, depois foi o calor, pediu para que retirassem o lençol para que ficasse mais fresco, porém ainda não havia me respondido. Durante a visita, enquanto havia essa inquietação da paciente, seus aparelhos pareciam esta ressoando sobre o leito e parecia ficar cada vez mais alto, subindo em ordem crescente. Eu olhava para os lados e a angústia começou a querer me possuir mas acabei falando que iria precisar ir mas que estava com saudade de vê-la, pois fazia dois dias que não havia conseguido visita-la. Após isso, ela agarrou em minha mão e apertou, nesse momento eu disse que estava ali e que se precisa-se era só me chamar.

Geralmente quando isso acontece, lembro muito da clínica, em como o silencio pode dizer muita coisa, pode ser tanto a escassez como o excesso de algo, muitos chamam isso de vazio, mas no final de tanta insustentabilidade emocional, o necessário é estar presente para o paciente, não é só chegar entregar um remédio. Não é a imposição da voz, sim a forma como é falado, é mostrar a confiança, segurança e apoio, pois aquela pessoa pode está precisando disso.


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